Filatelia em Portugal: Glossário, Postal-Máximo

Filatelia em Portugal: Glossário, Postal-Máximo

Postal-Máximo

Notas complementares

É habitual encontrar as origens dos postais-máximos no início do século XX: para aproveitar a totalidade de um dos lados do postal para a escrita e ocupando a ilustração a totalidade da outra o selo era colocado sobre aquela, colocando-se na parte do texto uma nota nesse sentido para se evitar a multa. Sendo a marca postal para inutilizar o selo os três elementos acabavam por ficar presentes na mesma face do postal: ilustração, selo, carimbo.
São origens remotas e efémeras pois da situação anteriormente restrita poderá resultar uma correspondência entre os três elementos presentes, mas tal é perfeitamente acidental. Os postais-máximos como hoje os conhecemos são um produto deliberado da vontade humana, de um esforço deliberado. Como nos diz Eurico Lage Cardoso

Foi só no período decorrente entre as duas grandes guerras que alguns cartófilos, já na posse de um pequeno núcleo daqueles postais (verdadeiros máximos), começaram propositadamente a adicionar-lhe criações próprias, assim como outras pedias, a correspondentes estrangeiros à medida que iam aparecendo selos adequados a tais criações.

Veja-se este recente postal-máximo francês:

Combinar os três elementos presentes (ilustração do postal, selo e carimbo) visa fornecer um conjunto filatelicamente válido que forneça o máximo de informação possível e imediatamente visível, sobre um determinado acontecimento, em sentido lato.
Para que tal aconteça são necessários dois aspectos:

a) O postal seja “standard”, o selo seja verdadeiro e seja inutilizado por um carimbo com data do seu período de circulação legal.
b) Haja uma concordância entre os três elementos.

O primeiro ponto parece-nos suficientemente evidente para justificar qualquer esclarecimento adicional. O mesmo já não se dirá do segundo.
Dissemos anteriormente que se visa com a combinação “fornecer o máximo de informação possível e imediatamente visível sobre um determinado acontecimento ou situação”.
Para que o conjunto dos três elementos forneça o máximo de informação é necessário que os elementos estejam entre si correlacionados. O que queremos dizer com isto pode ser ilustrado por três exemplos:

  1. Suponha que uma determinada administração postal emitia um selo sobre Galileu reproduzindo este fazendo uma experiência. Suponha ainda que um cartofilista possuía um postal com a imagem da mãe de Galileu. Colado o selo sobre esta acrescentava-se o carimbo dos correios do país emissor com o local onde morreu um dos padres que o julgou inquisitorialmente.
  2. Suponha ainda uma semelhança entre as imagens do selo, do postal e do carimbo (no nosso exemplo, um subscripto utilizável na correspondência), sendo este de um determinado local (Lyon)
    ((( Exemplo )))
  3. Ou ainda acontecimentos referentes a uma determinada cidade (no nosso exemplo a conquista de Santarém aos Mouros e a sua integração no território que viria a constituir Portugal) em que todas as imagens (selo, carimbo e postal) se referem ao mesmo, fornecendo cada uma uma informação específica e própria e em que o carimbo é dessa mesma cidade.
    ((( Exemplo )))

Nos três casos há uma correlação entre os três elementos: correlação estabelecida pela vida de Galileu, no primeiro caso, correlação de imagens no segundo caso, correlação de imagens e lugares no terceiro.
No primeiro caso a informação está dispersa e poder-se-ia considerar muitas outras combinações possíveis dentro da mesma lógica. Se o “postal-máximo” tivesse um letreiro tudo seria fácil mas a verdade é que a peça filatélica não fala por si. Quase que poderia ser utilizado para charada: “tente adivinhar o que há de comum entre os três elementos”.
No segundo caso há semelhança de imagens mas fica-nos no ar a interrogação. Porquê um carimbo de Lyon se o tema constante do selo é “universal” e a imagem do postal ilustrado é retirado de um museu estrangeiro?
No último caso as relações aparecem claramente: a emissão de selos refere-se à conquista de Santarém aos Mouros, o postal dá uma imagem similar, acrescentando alguma informação adicional, e o carimbo não só é da cidade em causa como acrescenta duas informações: sobre o traje dos guerreiros e, eventualmente, sobre o dia em que essa conquista se efectivou.
Neste último caso temos uma informação imediatamente visível. Neste caso dizemos que há concordância entre todos os elementos.
Que mais dizer sobre a concordância? Basta reproduzirmos o que o referido autor refere nas pág. 129 a 139 da obra A Maximafilia na Actualidade (Princípios Fundamentais deste Coleccionismo), edição do autor:

ALGUMAS CONSIDERAÇÕES QUANTO ÀS CONCORDÂNCIAS

De Motivo
Este tipo de concordância pode variar desde suficiente a excepcional.
Actualmente, encontra-se espalhada a opinião, sobretudo quando se trata de coleccionismo temático-maximófilo, de que num PM não só o suporte (postal ilustrado) deve conter mais elementos de que o selo, quando este reproduz um pormenor ou um fragmento de uma imagem, mas também a obliteração (a localidade ou um carimbo ilustrado relacionado com o tema coleccionado).
Quando existam dois postais ilustrados representando um mesmo motivo e um selo que reproduza exactamente a ilustração de um dos postais (por nele se ter baseado o autor do selo) só devem realizar-se postais máximos utilizando como suporte o postal ilustrado em que o artista do selo se inspirou.
(…)
De Lugar
Obtém-se, naturalmente, pelo nome da localidade inscrita no carimbo.
No caso de uma personalidade do país que emitiu o selo, escolher-se-á a obliteração da localidade relacionada com o acontecimento comemorado: nascimento, morte, obra ou aspecto da sua actividade. No último caso dar-se-á preferência ao carimbo da localidade com o nome da personalidade em causa.
No caso das espécies de fauna e de flora de um país, o postal máximo será obliterado nas zonas geográficas onde se encontram essas espécies.
Os postais máximos que representam diversas actividades desportivas serão obliterados de preferência nas localidades onde se praticam esses desportos (desportos de inverno, náuticos, etc).
Os PM que representam “obras de arte”, tais como: arquitectura, pinturas, esculturas, mosaicos, esmaltes, vitrais, frescos, tapeçarias e, de uma maneira geral, todas as obras que figurem nos museus ou em colecções de arte devem ser obliteradas na localidade onde se encontrem. Por vezes existem, no interior dos próprios monumentos e dos museus, Postos do Correio. Quando tal se verifica, a obliteração nesses Postos é a preferida.
Todavia, quando do julgamento de colecções sobre diferentes obras de arte que possam ser transportadas – sem posição fixa -, personalidades célebres e motivos relacionados com o Cosmos, considerando o seu carácter universal, o júri poderá aceitar, excepcionalmente, a obliteração no país emissor do selo.
Os carimbos de 1″. Dia de circulação e a concordância de lugar
Observa-se, modernamente, a tendência exagerada de dar preferência, sobre qualquer outra, à obliteração do primeiro dia, sobretudo desde que os Correios de um grande número de países puseram à disposição dos utentes carimbos especiais do primeiro dia de circulação dos selos, quantas vezes sem se atender ao acontecimento que eles comemoram. Deve contrariar-se tal tendência, quando a concordância de lugar não é respeitada, porque dai provem realizações, não só sem qualquer interesse para a maximafilia, mas até com graves inconvenientes para a sua expansão.
Alguns elementos que completam o que se encontra determinado quanto à concordância de lugar
Para lugares, trajos e costumes devem os selos ser obliterados também nas localidades onde estiverem situados ou na localidade mais próxima não havendo posto de correio no lugar representado no selo. Tal recurso pode aplicar-se também aos monumentos e paisagens.
Para os Chefes de Estado não há qualquer exigência especial, servindo, portanto, a obliteração de qualquer localidade do País ou território sob a sua chefia e onde o selo tenha curso, dando-se, porém, preferência à capital desse país ou território.
Para navios, caminhos de ferro e aviões devem preferir-se os carimbos, respectivamente:
a) Do posto de correio da gare marítima ou de bordo do navio;
b) Do posto de correio da gare do caminho de ferro;
c) Do posto de correio dos respectivos aeroportos.
Não havendo postos de correio nos locais indicados nas alíneas anteriores, procurar-se-á a obliteração mais apropriada.
Para as bandeiras, armas, brazões e alegorias sem relação directa com qualquer localidade a obliteração deve ser feita na capital do país.
Obliterações apostas em lugares relacionados com acontecimentos consagrados em selos
Quando o selo é consagrado a certo acontecimento, a obliteração será feita no lugar relacionado com o referido evento. Esta relação pode ser de circunstância.
Vamos dar um exemplo que, pela sua clareza, estamos certos ajuda perfeitamente a esclarecer este ponto que, eventualmente, pode suscitar certas dúvidas em alguns coleccionadores ainda pouco integrados nas regras maximófilas.
Durante o ano de 1983, esteve patente ao público em diversos monumentos nacionais, da capital do País, a XVII Exposição Europeia de Arte, Ciência e Cultura.
Algumas “peças” de museus de várias localidades de Portugal foram enviadas para Lisboa, temporariamente, por ocasião daquele acontecimento.
Os nossos Correios lançaram uma emissão comemorativa daquele evento, reproduzindo algumas daquelas “peças” e criando carimbos ilustrados para cada um dos motivos dos selos, com indicação dos monumentos onde as “peças” estiveram expostas.
Com os selos dessa emissão foram realizados interessantes postais máximos.
Um dos “Objectos” que teve a “honra” de ser representado nessa emissão, foi um capitel românico proveniente da Igreja da Colegiada de S. Pedro, em Coimbra, e que data do século XVII, pertença actual do Museu Machado de Castro, situado na cidade dos doutores.
É, precisamente, o postal máximo do referido capitel românico que vamos analizar quanto à obliteração. Desde a altura em que a “peça” esteve exposta em Lisboa, a obliteração ilustrada, na qual se lê “Mosteiro da Madre de Deus” – CTT Lisboa 8.5.83, é excepcional uma vez que no momento em que foi aposta, respeitou, sem dúvida, a concordância de lugar, dado que a “peça” estava exposta, provisoriamente, naquele mosteiro, situado na capital do País e na referida data. Por conseguinte, a obliteração foi feita no lugar relacionado com o acontecimento. Houve, aqui, sem sombra de dúvida, uma relação de circunstância.
Durante a permanência da “peça” em Lisboa, também, a “marca do dia” da Estação do Correio de Xabregas é boa, mas, obviamente, não pode comparar-se com a obliteração que acabamos de referir.
Logo que o aludido capitel românico regressou ao seu lugar de origem (Museu Machado de Castro), em Coimbra, só a “marca do dia” da Estação do Correio mais próxima daquele Museu pode ser utilizada para a realização de PM do motivo que vimos tratando.
Um erro grave que vemos, com frequência, em colecções de maximafilia, no que respeita à concordância de lugar
Verificamos, frequentemente, em certames, onde a maximafilia marca presença, um erro de “palmatória” em colecções da modalidade, que gostaríamos de ver banido em futuras “Mostras” e Exposições. Esse erro revela, na verdade, falta de conhecimento de base quanto à concordância de lugar. Com efeito, especialmente em colecções de pintura, é vulgar notar-se atropelos à concordância de lugar, por parte dos coleccionadores deste tema, que parece ignorarem as normas elementares que remem esta concordância.
Com efeito, se uma determinada “obra de arte” existente, por exemplo, no Museu do Prado, em Espanha, é reproduzido num selo emitido na Argentina, desde que exista um suporte adequado é sabido que se pode realizar um postal máximo obliterado, de preferência, na capital desse país, Buenos Aires.
Porém, se for realizado um postal máximo dessa mesma “obra de arte”, com um selo emitido em Espanha, a única obliteração válida é de Madrid, dado que é na capital espanhola que se encontra situado o Museu do Prado.
O que sucede, por vezes, é que temos visto “peças” obliteradas em Sevilha que representam quadros patentes no citado Museu de Madrid. Postais nestas condições devem ser sempre banidos de qualquer colecção, porquanto de “máximos” só têm o nome, dado que o seu realizador não atendeu à importantíssima concordância de lugar. Este é apenas um exemplo dos vários que poderíamos citar.
De Tempo
O postal máximo só pode ser obliterado durante o período em que o selo tem poder de franquia. As obliterações que possam ser obtidas posteriormente, isto é, depois do selo retirado de circulação, não podem ser admitidas.
Quando a “data de retirada” não é conhecida oficialmente – caso geral – considera-se que após um período de cinco ou seis anos depois da emissão não é possível a obliteração com vista à realização de um postal máximo. Entre nós, esse período de tempo pode ir até dez anos em relação a uma ou outra emissão em especial de selos “base”. De notar, ainda, que há países em que o período de validade do selo é indefinido.
A concordância considera-se “máxima” se a obliteração é aposta no dia do aniversário do acontecimento comemorado ou relacionado com a personalidade lembrada; a concordância é “muito boa” com a obliteração de 1º. Dia (exigindo-se, também, neste caso que haja concordância de lugar); a concordância é “suficiente” em qualquer data.

Agora que já tem estes conhecimentos algumas imagens ilustrativas com postal-máximo e marca postal (ampliada):
Postal Máximo [1], [2], [3].

Terminologia Maximofila
Postais-Máximos “variantes”
São considerados variantes os P.M. franquiados com um mesmo selo sobre postais ilustrados diferentes com obliterações diferentes que respeitem a regras da concordância
Quando um selo apresenta vários assuntos (múltiplos ou secundários), o estudo de “variante” só deve dizer respeito a um dos assuntos
Postais-Máximos “não-variantes”
Não são considerados variantes os P.M. franquiados com selos com o mesmo assunto mas que, por qualquer razão, diferem entre si.
Postais-Máximos “variedades”
A designação de “variedades” aplica-se exclusivamente ao selo.
Postais-Máximos com obliterações ou suportes diferentes
Referimo-nos a P.M. que utilizam o mesmo selo e que, respeitando as regras da concordância, diferem pelos carimbos ou pelos postais.
Não podem ser considerados como variantes.

Duas recomendações finais:
(1) Algumas estruturas associativas ligadas à maximafilia certificam que se está em presença de um postal-máximo (–>) e, em muitos casos editam os seus próprios pm.
(2) O coleccionador deverá sempre olhar com muita atenção uma combinação de postal, selo e carimbo para verificar se é um postal-máximo (e não se iluda com a entidade emissora pois as administrações postais são os primeiros a violar os princípios definidores deste coleccionismo) e, no caso de ser, qual a validade. Informações sobre o acontecimento analisado, sobre o postal e sobre o carimbo são indispensáveis. Uma atitude expectativa é impensável na maximafilia. “Saber, saber mais” é a regra.

Duas perguntas finais:
(1) Na grande maioria dos casos as obliterações dos postais-máximos são de favor. Não há que adequar a posição assumida em relação a aquelas quando aplicadas ao postais-máximos e noutras circunstâncias?
(2) Quais as fronteiras entre os Postais Máximos e os Envelopes de Primeiro Dia?