Land Art On-Line: Earth-Works

Parte da inspiração da Land Art remonta aos monumentos pré-históricos, como Stonehenge; a outra parte, embora pouco admitida, deve-se à paisagem britânica de jardim oitocentista. De qualquer modo, a arte da terra é sobejamente conhecida pelos trabalhos em/sobre a paisagem. Relativamente aos seus percursores directos, poderemos falar de Isamu Noguchi, com Playground and Playmountains(1940), do versátil Herbert Bayer, que já em 1947, explorava as possibilidades de uma paisagem esculpida e Dami Caravan, que ergueu Peace Monument em 1963/68. Estes três artistas aproximaram a Land Art ante festum.

 

imageChristo

Na mesma esfera, embora num outro extremo, aparece-nos Christo e Jeanne-Claude, no seu trabalho interventivo na Landscape e, maioritariamente, na Cityscape. Em 1972/76 elabora Running Fence, em Sonoma and Marin counties, na Califórnia, um dos seus mais publicitados trabalhos na landscape, realizado com 2050 painéis de nylon branco, com 5,4 metros de altura, ao longo de 38,4 kilometros. Na Cityscape, o seu trabalho, fisicamente efémero, envolve obrigatoriamente o social, tendo como resultado permanente a sensibilização comunitária e uma possível memória colectiva.

[Runing Fence]

Em 1983 elabora Surrounded Islands em Biscayne Bay, Florida, um projecto fisicamente mais ambicioso. Onze ilhas da Baía foram empacotadas em 6.500 m de tecido plástico cor de rosa (polipropilena), como auréolas flutuando na superfície da água.

[Ilhas Embrulhadas]

imageWalter De Maria

Walter De Maria e Heizer partilharam um grande interesse sobre a paisagem do Oeste, no entanto De Maria baseou-se mais em experiências relacionadas com sistemas de ordenamento e de medição do que sobre o tempo geológico, como fez Heizer. As prioridades de Walter de Maria são diferentes. As suas “severas” obras não estão limitadas na Land Art. Combinam uma aproximação hermética de Duchamp com as formas repetitivas do Minimal, demarcando um elevado senso dramático.

Em 1968, talvez estimulado pelo trabalho de Heizer na paisagem, De Maria encheu a galeria Heiner Friedrich em Munique com três pés cheios de lama. Em 1977, De Maria realiza “The New York Earth Room” que consistiu na cobertura do chão de um 2º andar de um edifício de Nova Iorque, pertencente ao Dia Center of Art, com 225 metros cúbicos e 56 cm. de profundidade de terra preta. Este trabalho, para ser assimilado e entendido exige ser presenciado, uma vez que a descrição ou mesmo a observação através de imagens é nula. Segundo o artista é imprescindível sentir o cheiro do húmus para compreender a obra. Earth Room evoca uma apreensão romântica da paisagem num espaço urbano, e reflecte também a influência de John Cage, na medida em que dá mais ênfase à sensação causada pelo ambiente, do que qualquer expressão da personalidade do artista.

No mesmo ano, De Maria concebe Lightning Field, que foi talvez um dos seus mais ambiciosos trabalhos, e é constituído por um terreno semi-árido do sul do Novo México, com uma área de aproximadamente 1600 m2, onde instala uma grade com 400 vigas de aço inoxidável e de pontas afiadas, organizados em 16 colunas de 25 cada. Esta obra foi de tal maneira calculada em termos metereológicos e geométricos, que durante a época das tempestades, a estimativa mensal é de três dias de relâmpagos. Os visitantes, constituídos, imperativamente, por pequenos grupos de pessoas, ficam confortavelmente instalados numa cabine, durante, pelo menos, 24 horas. 


image Robert Smithson

A composição modelar e simplicidade geométrica das primeiras esculturas de Smithson apresentaram-no como um minimalista, mas as suas obras, antes de serem inspiradas por formas geométricas, eram-no por estruturas de cristal, indicando que a impersonalidade, normalmente atribuída ao minimalismo, era desajustada nas obras de Smithson.

A preocupação constante de Smithson era a conexão entre natureza e ambiente. O conceito físico da entropia, o decair da ordem para o caos são aspectos característicos das intervenções paisagísticas de Smithson. O caminho de Smithson vai da pintura expressionista abstracta para o tema non-site: fotos ou mapas documentando um sítio que existe fora da galeria, justapostas algumas vezes com pedra, lixo ou minerais recolhidos do sítio original. Em 1970 desenvolve o seu conceito de escultura de site, que define escultura como parte de um certo espaço, e não como objecto isolado e móvel.

Em 1972 concebe Spiral Jetty. A ideia nasceu de visitas consecutivas ao local e a personalidades que conheciam o Great Salt Lake. Nessa altura, Smithson, ainda não tinha concebido na sua mente a forma que teria o seu trabalho. Fascinava-o o facto de o lago ter cor de “sopa de tomate”.

[Espiral]

Após um vasto e exaustivo estudo, Smithson realiza uma espiral de 460 metros de comprimento e 50 metros de diâmetro, realizada com 6000 toneladas de basalto e pedra-pomes, deitadas na água vermelha do Great Salt Lake, em Utah.

;” O vermelho é a coisa mais divertida e horrível do universo físico. É uma cor violenta, a mais luminosa de todas. É o lugar onde as paredes deste nosso mundo são mais finas, transparecendo algo em chamas”

G.K. Chesterton

No ano da sua morte, 1973, executa Amarillo Ramp no texas. Esta obra não concluída não é simplesmente um monumento no deserto. Não foi por coincidência que os projectos favoritos de Smithson eram reactivações artificiais de minas: os espaços pós-industriais são elementos de forças naturais. Smithson documentou o ambiente industrial, apresentando fotografias de fábricas e pontes, reconhecendo as estruturas industriais como os verdadeiros monumentos da cultura e civilização do século xx.

imageMichael Heizer

Dentro deste contexto, Michael Heizer foi também um dos impulsionadores. Numa era de exploração do espaço, e de antagonismos sociais, Heizer sentiu que a arte deveria ser (re)vista de uma forma não –conformista.

O seu trabalho na paisagem começou em 1967, quando ele afundou um cubo aberto no solo do Nevada, o primeiro elemento de uma escultura projectada com quatro partes ( os quatro pontos cardeais) que se intitularia de NESW. Abril de 1968, Heizer auxilia De Maria na sua primeira obra: duas linhas paralelas numa milha do deserto Mojave, na California. Nesse mesmo Verão, Smithson e Holt juntam-se a Heizer no Nevada, onde estava a trabalhar nos Nine Nevada Depressions.

Em 1969, realiza Displaced – Replaced Mass – enormes blocos de granito transportados de High Serra para o Deserto do Nevada ( fazendo alusão à época egípcia, com a mudança dos monolitos que formaram o Colosso de Memnon, no Vale dos Reis) colocando-os em depressões do solo.

Em 1969 retornou ao Nevada, onde utilizou máquinas escavadoras e deu inicío, num local apelidado de Mormon Mesa , ao Double Negative dois cortes na Mormon Mesa, de frente um para o outro, separados por uma profunda vala escarpada. Escavou cerca de 220.000 toneladas de terra para realizar os dois cortes. Double Negative foi uma obra que chocou o mundo da arte. Um crítico escreveu ” A arte da Terra, com excepções à regra, não só prejudica o ambiente natural, como o destrói.” .

Outro dos maiores trabalhos de Heizer pós Double Negative foi Complex One (1972/76) , localizado no Sul do Nevada, que consistia numa colina artificial, em forma de pirâmide alongada, construída com terra proveniente de um local próximo e suportada por uma estrutura de aço e betão.

A intenção de Heizer não se baseava na irreverência gratuita “Nunca quis destruir o sistema de galerias ou o objecto estético. Não tentei realizar trabalhos temporários – fiz o melhor que podia com as ferramentas que pude comprar. Não sou um radical. De facto, estou a andar para trás. Gosto de me agarrar ao passado.”